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Ressaca e reflexões natalinas

Ressaca e reflexões natalinas
 
As conversas sobre futebol foram menos sobre jogadas e jogadores e mais sobre finanças e perspectivas nesse “não feriado” de Natal, com parte da família de minha esposa na chácara onde mora minha sogra. Sim, é claro e é óbvio que o Barça também foi assunto, mas não tanto quanto as perspectivas.
Virão jogadores que estão na Europa?
Os bons que aqui estão aqui permanecerão?
O Corinthians vai ficar entre os vinte do mundo?
(Um primo mais entusiasmado ensaiou “dez do mundo”, foi vaiado e aquietou-se; menos, gente, menos; afinal, se  já é difícil entre os vinte, que dizer entre os dez?.)
“Outro dia você escreveu no teu blog que o Brasil já é a sexta economia do mundo. Isso é fato, mesmo? Porque, se for, a gente vai começar a trazer tudo quanto é jogador que tá lá fora, você não acha?” – emenda da ponta da varanda um sobrinho. E essa é a prova que este blog é lido por mais de meia dúzia, pois só contando filhos e sobrinhos leitores a conta já passa os dedos de uma mão.
 
Hummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm…
 
Sim, já somos a sexta economia planetária, como foi dito no post Tempos de euforia versus a realidade, a partir de estudo feito pela Pluri Consultoria, que dava 28 de novembro como o dia em que deixamos a terra – e a economia – da Rainha para trás.
Mais: logo na manhã dessa segundona pós-Natal, os britânicos encontraram no Guardian e no Daily Mail, entre outros, a mesma notícia: o Reino Unido foi ultrapassado pelo Brasil no ranking das maiores economias globais. A fonte dos jornais ingleses foi estudo divulgado pelo CEBR – Centro de Pesquisas Econômicas e de Negócios (na sigla em inglês) – e vai além, prevendo que a França deixará a quinta posição e em sua queda ficará ainda atrás do Reino Unido (ufa, que alívio para os súditos de Sua Majestade), sem falar de Rússia e Índia, que, ainda segundo o estudo, também ultrapassarão os britânicos, ficando atrás do Brasil.
Que será, então, a quinta economia do mundo.
Brasssssiiiiiiiiiiiiiiiiiiiilllllllllllllll!!!
(Agora é que ninguém segura o ufanismo tupiniquim.)
Tudo isso é muito bonito e massageia o ego, além de levar o mundo a uma vez mais curvar-se ante o Brasil, como dizíamos outrora com alguma vitória esportiva, logo amplificada para tudo, mas não bate plenamente com a realidade de nossas ruas, favelas, condomínios, interiores, sertões e grotões.
Bate menos ainda com a realidade de nossos clubes, sejam grandes, enormes, médios, pequenos ou tão pequenos que são intermitentes. Os salários atrasados fazem parte do dia-a-dia, do pequeno clube interiorano ao grande clube à beira-mar plantado, no coração do Brasil rico e feliz. Que já se acha Primeiro Mundo, apesar dos enormes bolsões de Quinto Mundo que ainda são a realidade de enormes parcelas de nossa população. Mesmo a euforia com a ascensão da classe C, já transformada em “classe média” por governantes e analistas diversos, é ilusória. Essa transformação eleitoreira, para uns, e ingenuamente otimista para outros, carece ainda e carecerá por muito tempo de sustentabilidade.
“Pô, cara, puta discurso chato esse, logo depois do Natal! Pô, meu, vai ser pessimista assim lá longe! Tá de ressaca, é?”
Buenas, chato eu aceito, pessimista não. Sou apenas realista e meu realismo vem de duas bases: 57 anos e uma montanha de planos econômicos, projetos, discursos mirabolantes já vividos, conhecidos e ouvidos nessa Terra de Vera Cruz, e o conhecimento de toda ela, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, capitais e sertões, interiores ricos e grotões miseráveis. A bem da verdade, falta-me um só rincão para conhecer e padeço com isso, ainda sonho com isso: Roraima. E quando lá for, a caminho de conhecer o Monte Roraima e, quem sabe, sonho maior, o Pico da Neblina, passarei pelos campos roraimenses onde ainda habitam cavalos selvagens e passarei por antigos campos de lavoura, destruídos pela visão míope e pela política rastaquera de políticos e “ONGs”.
Enfim, o Brasil, com seus brutais desequilíbrios, onde o Quinto Mundo é separado por um reles muro do Primeiríssimo Mundo, está longe de ser uma base sólida e confiável para grandes planos e grandes ousadias no mundo da bola. Até porque, um dos protagonistas desse mundo, os clubes, são a cara do Brasil: usam roupas, maquiagem e celulares de Primeiro Mundo, mas moram no Quinto. Desfilam bonitões e enfeitados, mas não levam ninguém para conhecer a intimidade de suas moradias.
Não gosto de ser chato (há quem diga o contrário), mas, de vez em quando, alguém tem que ser o chato de plantão. Seria melhor cuidarmos da estrutura e da sustentabilidade, antes de sonharmos com nomes badalados e seus salários astronômicos. Porque, a cada novo dia, a cada nova matéria mostrando a naturalidade com que salários de 500, 650 e até mais milhares de reais são mostrados, fico mais e mais surpreso, admirado e assustado.
A muito curto prazo, alguns dos “atirados” e crentes na riqueza terão sucesso, enquanto quem persistir com uma visão mais conservadora e sólida, se é que há alguém assim ainda, vai se dar mal. A médio prazo, entretanto, o panorama há de mudar e é nesse ponto que reside o grande perigo.
E assim começamos nesse OCE a última semana de 2011.
Ops, e sem ressaca, não se preocupem, pois duas taças de um bom espumante não bastam para tanto, dão somente prazer. Ela só entrou no título, que ficou mais bonitinho e atraente, na minha nada modesta opinião.
Boa semana final do ano para todos.

Fonte: http://globoesporte.globo.com/platb/olharcronicoesportivo/2011/12/26/ressaca-e-reflexoes-natalinas/

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